domingo, 5 de setembro de 2010

2ª carta - CPR

Lembro de momentos com você em todo tempo, e é o que me faz ouvir todas as músicas e classifica-las como: as nossas.
Você parece ter sido moldado ao meu gosto, o que é ridículo, porque é a única pessoa que me faz rir e me tira do sério ao mesmo tempo. É tão irritante o seu modo de tranqüilidade enquanto os ânimos estão alterados, o jeito calmo de dizer: - Eu não vou discutir com você! - desarmando toda uma situação que eu criei pra mostrar que eu posso ser irritante, tanto quanto você.
Sua fisionomia é tão nítida na minha memória que vejo familiaridade nas expressões de pessoas até mesmo desconhecidas, e são tantas essas expressões: o jeito de concordar num piscar de olhos, o charme com que morde os lábios, o “franzir” das sobrancelhas.
Ainda com detalhes tão comuns você me passa cada palavra e cada olhar com um toque único. Seus gestos me encantam até hoje. Seu comportamento marrento, dono do mundo se fazia perceptível até ao falar no telefone apoiando-se com pé na parede, a “falsa concentração” ao dirigir, o mover do punho no volante, o largar do pescoço quando sai do carro, um tipo de auto-avaliação. A demonstração de força, que me frustrou por não penetra-la; a tua presença e a tua postura diante da sociedade.
Você me transformou em fragmentos. Torne-me quebradiça, dependente, apaixonada, mulher. Despertou em mim uma vontade de sentir prazer, a tentação de descobrir novos caminhos, mais quentes e menos sérios; o que sinceramente não me trouxe arrependimento nenhum, à não ser por não ter aproveitado o fato de que estava ao meu alcance.
Saí da vida e dos costumes de uma menina, o que me faz acreditar que posso ser uma mulher, ou não. Pois toda vez que volto a pensar em você fico vulnerável e infantil, o que me faz retomar o lugar da tal menina; ou não.
Ao teu lado a palavra que mais me atormentava era: talvez. A dúvida era um pensamento constante. Era tudo seu, mas nascia em mim. A parte sua que existe dentro de mim. Minhas idéias se baseavam e nunca se firmavam. Logo eu que achava que só existiam duas respostas: o sim e o não, passei a desvalorizar a certeza.
Tentei conhecer pessoas novas, mas ninguém me olhou como você, ninguém tocou meu rosto nos momentos precisos, me fez tremer ou ficar indiscreta diante de alguma situação. Meu mundo se limitou em coisas que tem graça nenhuma. Se sua falta tirou o brilho de tudo.
Um dia me transtornei com um tapa, achei inaceitável. Sem saber que isso me acordaria do meu sono defensivo e me levaria a minha atual situação de passividade. O tapa que mostrou que as paixonites da imaturidade adolescente não passavam exatamente disso, e me permitiu descobrir que cada ação sua eram sinais de alerta sobre o mundo, sobre a vida, sobre nós. O nós que eu nem sei se foi de verdade, porque diante dos meus olhos era eu e você, e talvez na realidade fosse somente eu, eu e a ilusão de que o teria pra mim.
Mas eu nunca pensei na ilusão como algo negativo, se é ela que nos faz acreditar em algo tão distante. Triste é o depois, a desilusão que chuta os fatos imaginários e joga na nossa cara a verdade.
Eu te desejo cada segundo. Meu corpo ainda aquece, chego a suar frio quando penso nos teus toques no teu abraço terno e forte, no calor do teu corpo, na tua boca. Em pensar o quão submissa me torno em teus braços. Teu perfume é quase que uma droga pra mim.

Nenhum comentário: